Escolho um lugar para ficar só, para pensar. E, quando começo a pensar, começo a escrever, pois é escrevendo que consigo pensar alto. Algumas pessoas falam sozinhas, eu falo e escrevo sozinho. À minha frente há uma árvore frondosa e bela, e fico a admirá-la por uns instantes. É aí que me dou conta de que paira sobre ela um pássaro. Ele tem belas e grandes asas, e as usa para planar em movimentos circulares, aproveitando o vento lá de cima. Ele vai planando e planando, e não consigo desprender os olhos dele. Há muitos significados para mim naquele vôo, muitas metáforas por trás daquela imagem, mas não me atrevo a pensar em nada - apenas aprecio-o deslizar pelo ar. E assim ele vai...
E meus pensamentos correm soltos por anos e anos a fio. Fazem uma milhonésima retrospectiva das muitas coisas que vivi; dos muitos caminhos que trilhei para chegar onde estou hoje. E me dou conta de que será ano novo em poucos dias - meu trigésimo segundo ano novo.
E o que sou hoje não passa daquilo que quero ser, que escolhi ser. Sim, porque são as escolhas que fazemos que determinam o caminho por onde passamos, e os lugares aonde chegamos.
E onde eu estou agora? Ah, estou exatamente dentro de mim mesmo. E acho que isso é bom. É o que basta por enquanto. É onde quero estar.
Olho novamente e vejo que o pássaro já não está mais ali - se foi. Escolheu outro caminho; outro lugar para ir. Hora de eu também partir, de voltar para casa. Mas me pergunto onde fica a minha casa, onde é o meu lar, e algo dentro de mim responde que minha casa é onde meu coração está. Então, sem titubear, parto em direção a ele...