domingo, 29 de agosto de 2010

Significados

As coisas não são aquilo que parecem, e não parecem ser aquilo que são. E percebo que as coisas possuem muitos significados diferentes, variando de acordo com o tempo e o clima. Pode ser um disco, um filme, um livro, ou um gesto. Está tudo ali, e não está ao mesmo tempo. Existindo sem existir, por assim dizer. Não, eu não estou viajando.
Mentira, estou sim. E faz tempo que saí de mim. Faz tempo que a imagem no espelho não me reflete mais. Faz tempo que vivi.
E que perdi das coisas o medo também. Agora, não há mais medo. Nem da vida, nem da morte. Não há mais passado nem futuro, apenas um dia de cada vez. E os dias podem ser nebulosos e fumacentos, mas nem me importo. E o furacão arrebenta as coisas ao meu redor sem ter poder sobre mim. Mas ele tenta, ele sopra, sopra, sopra... e a porta continua ali, a despeito de todas as paredes que já despencaram.
Espero sem ter esperança. Luto com os punhos abaixados, e sem erguer as armas. Vivo sem respirar, ou melhor, sem inspirar. Sem inspiração...
Mas o que isso tudo quer dizer, afinal?
Nada. Isso não significa absolutamente nada...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Falar ou não Falar...

Não gosto de falar. Não consigo falar. Todo o pouco que presumo saber se resume ao que escrevo, e isso é muito pouco mesmo. Agora, quando o assunto é falado... aí sei menos ainda.
Me enrolo nas palavras e tropeço nelas. No fim, prefiro o silêncio.
Mas nem sempre fui assim.
E talvez a blogosfera tenha sido o que me causou isso. Eu costumava ter a habilidade de expressar aquilo que pensava e sentia, mas agora sinto que sei apenas escrever. E isso não é tudo. Isso não é nada. Não, isso é nada, ou talvez menos.
Mas sinto e percebo meus pensamentos como se eles estivessem escritos. Admiro quem consegue falar. Admiro muito. Ainda pretendo ter o meu vlog um dia, mas isso requer muito treino e concentração. E tempo é o que menos tenho para tal agora.
Meus desejos de palavras faladas irão provavelmente para aquela pilha de "coisas que eu vou fazer um dia", que no momento está atirada num canto escuro de um armário mofado e feio, um canto de mim. Ou talvez eu seja assim mesmo - uma conjunção de coisas feias que tentam parecer belas a quem observa desavisadamente. Um homem mau que tenta ser bom.
Mas daí eu começo a pensar que somos todos assim - o que talvez seja mais uma armadilha da minha mente, tentando fazer os outros se parecerem com o que sou. Nos finalmentes, fica tudo no zero-a-zero, porque aquilo que sou, aquilo que penso ser, e aquilo que os outros vêem em mim de nada serve. De nada adianta. De nada é feito. E ao nada voltará um dia...
E esses estranhos e entrecortados pensamentos sim podem dizer algo 'verdadeiro' a respeito do que sou, ou ao menos de como me sinto: estranho e entrecortado. Pedaços múltiplos de muitas vidas, costuradas a esmo nesse ser que ora escreve, porque não pode falar...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Música (n+1)

Música boa. Voz excelente (no vídeo nem tanto...). Simplesmente Amy Lee...
Boa semana a todos...


Ok, a voz dela àquela altura já não era das melhores, mas a música é lindona...
Confira o clipe aqui (não consegui incorporar à postagem).

domingo, 22 de agosto de 2010

Retratos do Passado

Tem algumas coisas que não voltam mais. Nunca voltarão. Houve um tempo em que tirávamos fotos não para colocar no Orkut, mas para guardarmos de recordação. Era pessoal. Não existia câmera digital, então tirávamos as fotos e nunca sabíamos como elas ficavam até podermos revelá-las, o que acontecia somente depois de terminarmos o filme, que tinha ora 12, ora 24 poses (nunca comprávamos os maiores[não que eu me recorde...]).
E olhar velhas fotos nos remetem a tempos que não voltam mais. Pessoas que já não existem. Lugares aos quais nunca poderemos voltar. De certa forma, é triste. É a vida. Um dia também seremos apenas lembranças em uma foto manuseada por outrem, digitalmente ou não.
Seremos apenas velhas fotos.

Na verdade, já sou, em parte, velhas fotos. Fotos de fatos que representam aquilo que fui um dia. Fatos de um eu-que-já-morreu.

E, para 'comemorar' isso, resolvi deixar neste lugar, três dessas imagens. Imagens de mim, pedaços de mim.
Algo que talvez eu tenha sido, em um lugar muito distante daqui...




Foto 1 - Dos tempos em que eu ainda tinha uma mãe...
Foto 2 - Para provar ao mundo que um dia já fui bonito.
Foto 3 - Para tentar parecer que um dia já fui estudioso.

A quem passar por aqui, um abraço.
E tenha uma excelente vida...

sábado, 21 de agosto de 2010

Ausência II


Eu já não estou aqui - me mudei para outro endereço. Estou fora da área de cobertura, e ausente de mim mesmo. E a verdade é que nas entrelinhas estão todas aquelas palavras que se perderam no limbo lamacento de mim, e eu não quero entrar lá para buscá-las. Está frio demais pra isso. Ficarei aqui, enrolado em um cobertor quente, à espera de que um vento norte me traga uma ou outra de volta.
E quem sabe com elas eu também consiga retornar a mim mesmo, antes que a escuridão apareça...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nos meus olhos...


Ele ficou me encarando. Ali, imóvel. Não, não era o espelho, era apenas uma foto.
Uma foto minha.
Me encarando, enquanto me julgava, condenando-me um sem-número de vezes por muitas coisas que fiz ou deixei de fazer. Por frases ditas e silêncios moribundos. Recriminando-me por tudo o que eu era, sou e hei de tornar-me um dia.
Ele apenas ficou ali. Uma imagem congelada no tempo. Alguém que já morreu há séculos atrás. Um vampiro. Um natimorto. Um aborto da natureza. E ele não pára de me olhar...
Mas eu também o olho. E o vejo. E percebo muitas vidas, muitas mortes. Muitas esperanças e muitas derrotas. Está tudo ali, naquele olhar castanho, daqueles mais comuns que alguém pode ter. E percebo como ele é tudo e nada ao mesmo tempo. Talvez ele seja um morto-vivo, à espera de me devorar o cérebro através de meus sentimentos. Esperando para desferir palavras mudas, carregadas de dor e malícia, que só ele tem.
Mas ele é assim. Eu não. Eu me mudei.
E já não estou mais aqui...

Um Olhar Para o Futuro


Roberto percebeu cedo da manhã que Sandro estava diferente. Parecia que havia algo faltando nele. Algo que não se encaixava. Como os dois eram quase como irmãos, além de colegas de trabalho, Roberto foi ver o que havia de errado.
- E aí, o que você tem?
- Nada. - Respondeu Sandro, obviamente desviando da pergunda.
- Escuta, Sandro - Roberto abaixou a voz - somos amigos há muito tempo, e eu quero saber o que há de errado.
Sandro pensou um pouco, antes de dizer:
- Tudo bem, não tenho porque esconder de você... venha até aqui atrás.

Sandro encaminhou-se à uma sala vazia do escritório. Roberto no seu encalço.

- Estou realmente muito excitado por isso, e um pouco triste também. - Disse Sandro. Roberto abrindo um enorme ponto de interrogação em sua cara. Sandro continuou:
- Eu vi o futuro!
Roberto fez um ar de surpresa incrédula, erguendo uma de suas sobrancelhas grossas.
- É verdade, cara! Eu vi!
- Como?
- Ainda não sei direito. Foi como um sonho, mas eu não estava dormindo. Eu estava deitado, pensando, e de repente aconteceu. De repente me vi deitado em minha cama. Como se estivesse fora de meu corpo, sabe?
- Sei. - Roberto não estava convencido. Nem um pouco.
- Então foi tudo muito rápido. A imagem toda se moveu, e eu ainda me via, mas agora eu estava mais velho. Então vi a data em um jornal que havia sobre a mesa, e percebi, entendi, que estava no futuro!
- Cara, acho que você sonhou. Será que não? - Roberto acrescentou o ‘será’ após perceber a cara de reprovação que Sandro produziu.
- Você não está entendendo... eu realmente vi o futuro. Não sei como, mas estive lá. E o motivo porque estou assim é que não gostei muito de como me vi lá. Eu era um velho triste. Solitário. Sem amigos, sem família. Só de me ver ali, tive vontade de chorar...
- Cara, não leva isso a sério. Isso pode ter sido apenas a tua imaginação. Além do mais, todo mundo aqui gosta de você.
- Na verdade, Beto, depois do que vi, sinto que nada mais importa. Queria poder dormir agora e só acordar depois que tudo passasse...
“Eu vi o que acontecia até chegar naquele ponto. Foi tudo muito rápido, quase de relance, mas eu vi. E sei que vai acontecer. Sinto isso chegando, e não quero passar por isso.”
- Sandro, desencana e aproveita tua vida. O futuro não está escrito em pedra, você faz ele todo dia...
- Não, Beto. Eu sei. Eu vi.
E saiu, deixando Roberto para trás.

Tempos depois, Sandro morreu, antes de chegar aos 40. Infarto, foi o que os médicos disseram. Mas a verdade, e só uma pessoa no mundo sabia disso, é que não foi o coração que o matou, mas a falta dele...

domingo, 15 de agosto de 2010

Porque o céu é azul, me faz chorar...

Porque o céu é azul...

Porque essa música toca em um ponto de mim que me faz querer chorar...
Não sei por quê. Não há por quê. O porquê, nestas horas, deixa de ser importante.
E é como se todas as coisas que existem ou não pudessem se transformar em poesia.

Escuto essa música e me vejo solitário, em um dia frio e nublado, onde nada existe. E fico confuso, porque o céu é azul, porque o vento está soprando, porque o mundo está girando...

E o que é o amor?

O amor é você...


[Esta música e esta cena são do filme 'Across The Universe', um dos poucos filmes musicais que me encantaram. O visual do filme todo é lindo, e ele acontece em cima das letras das músicas dos Beatles. Revi esses dias atrás e baixei a trilha sonora - as versões são ótimas. Duvida? Assista o clipe aí de cima...]

[E enquanto isso seguirei minha viagem por entre sentimentos e pensamentos...]

Selo de Qualidade

O blog Rainha do Drama, da Juliana, presenteou este blog com o 'Selo de Qualidade'. Muito obrigado à Juliana e a todos os que acompanham este blog!




As regras para receber o selo são simples:
- Indicar 9 blogs.
- Avisar os Blogs de que foram indicados.
- Escrever 9 coisas sobre mim.


Meus indicados:

É isso aí, pessoas, vocês merecem, e por vários motivos...
Desculpe aos blogs de que gosto e que ficaram de fora, só tinha 9 espaços aqui.

Sobre mim:
  1. Trabalho em um banco, onde sou gerente de relacionamento.
  2. Sou extremamente antipático 'ao vivo'. Na minha opinião...
  3. Sou tímido, mas isso geralmente não me impede de fazer nada, exceto cantar em público.
  4. Queria ter olhos claros.
  5. Sou chato para escrever - tenho certa aversão a erros de português. Meus, não dos outros.
  6. Me orgulho muito de ser gaúcho. Com acento e tudo.
  7. Não como as unhas, mas os dedos. O violão me deixa com calos...
  8. Prefiro cerveja a whisky.
  9. Sou extremamente autocrítico. Há mais de 30 textos salvos no PC que considero muito ruins para publicar.
Bom, isto é um pouco de mim. Há um pouco mais sobre na postagem do selo 'Blog Bipolar', logo abaixo. E sabe que eu estou até gostando de falar sobre mim? (...)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Em branco. Mas não por muito tempo...

Uma folha em branco. Não há nada nela, e ela está bem na minha frente. Fico olhando para ela, e ela parece retribuir olhar. Seria isso possível?
Não sei. Não pretendo descobrir. E penso na minha vida - ela também é uma folha. Não mais em branco, há muita coisa escrita. Algumas estão riscadas de modo que nem consigo mais entender. Taxado. Taxado duplo. Palavras escritas por sobre outras.
A folha dá a impressão de que posso escrever o que quiser, mas isso é apenas um engano. E, mesmo que me atrevesse a tal ponto, ninguém poderia entender se eu não escrevesse corretamente. Existem regras para escrever. Regras de ortografia - e estou preso a elas. Gosto das regras. Adoro a gramática. Claro que erro de vez em quando, mas nunca propositadamente. É curioso errar. Engraçado o que alguns erros produzem.
Eles geram novos significados para alguns pensamentos escritos.
Eles geram alguns pensamentos para novos significados escritos.
Eles geram pensamentos escritos para alguns novos significados.
E o que dizer da pontuação, então? Ah, poderia passar horas entrelinhando sobre ela.
E, enquanto isso, a folha ainda está a minha frente.
Mas não mais em branco...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Blog Bipolar

O Blog da Aymée, Os Inversos Dentro de Mim, concedeu ao Ideias & Antíteses o selo "Este Blog é Bipolar". Não tenho nem palavras para agradecer. Muito obrigado mesmo pela indicação.
Quem puder e desejar ler textos interessantes, passa lá para conferir! Vale a pena!
Agradeço também ao Blog do Rodrigo, É tudo o que eu sei, e ao da Yeruska, Totalmente Comum, que também indicaram o Ideias para este selo. Muito obrigado, gente! Os blogs de vocês são excelentes!!!



As regras são simples: basta indicar outros blogs para receber o prêmio e relacionar 10 coisas sobre mim (e quem disse que o simples é fácil?).

- Blogs indicados para este selo (não estão em ordem):


- 10 coisas sobre mim:
  1. Não acredito em horóscopo;
  2. Prefiro repetir o almoço a comer a sobremesa;
  3. Sou viciado em café;
  4. Sou gremista doente (e anti-colorado, é óbvio);
  5. Toco violão, mas tenho vergonha de me apresentar em público;
  6. Em novembro completo 31 anos;
  7. Me formo em Administração pela UFRGS (EAD) no fim do ano. É a minha primeira faculdade;
  8. Ainda pretendo cursar Direito;
  9. Sou casado e tenho dois poodles que moram dentro de casa;
  10. Quero escrever um livro. Na verdade, já comecei (o título provisório é 'Projeto 64').
Bem, o que partilhei aqui é um pouco de mim. Na verdade, seria preciso mais uns 10 itens para eu ficar satisfeito em me descrever, mas regras são regras!
Agora é a vez de vocês (aqueles que ainda não pegaram o selo). Fiquem à vontade!

Apenas palavras...

Sentimentos não cabem nas palavras. Porém é impossível não admirar o esforço que estas fazem na esperança de traduzi-los! E o que seria dos sentimentos se não houvesse as palavras, afinal? Fico a pensar que talvez nem fossem tão intensos quanto são...
E também me parece que são as palavras, quando ditas (ou mesmo escritas), que tem o poder de fazer tudo acontecer. Tem o poder de emocionar, de iludir, de fazer viver ou de fazer morrer. Está tudo ali. Está tudo aqui. Com palavras, aquilo que está distante pode se tornar próximo, quase palpável; mas pode ocorrer o inverso também.
E pode ser que as palavras não ditas falem mais do que as ditas. Esta é uma antítese interessante: o silêncio das palavras grita!
Falamos as palavras, as ouvimos e as vivemos. E vivemos intensamente cada vírgula colocada no texto, ou esquecida, ou mal colocada intencionalmente. Nos equivocamos diversas vezes por nos perdermos em alguns de seus significados, mas nem é culpa nossa. A culpa, em última instância, será delas. Ambíguas palavras.
Não importa se falamos com mãos, boca, olhos ou coração. Se pararmos para pensar, elas estarão lá, ainda que apenas em nossas mentes, aguardando uma oportunidade para serem libertadas. Esperando por tornar nossas vidas melhores ou piores. Afinal de contas, elas sempre produzirão algum efeito. Sempre tem uma missão, para o bem ou para o mal.
Mas ainda resta uma questão a ser respondida: falarão as imagens mais que as palavras? Ah, embora possamos pensar que sim, prefiro pensar que as imagens apenas falarão palavras a mais. É algo semelhante ao que acontece aos sentimentos - basta um deles para que fiquemos cheio delas e de seus infinitos significados.
Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Quem tiver olhos para ler, leia...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Dia 'D' de Selene

[ADVERTÊNCIA: O conteúdo a seguir é impróprio para menores]
Selene estava cansada de sua vida. Pensava que tinha razões de sobra para isso. Não se sentia amada, não se sentia valorizada, não se sentia livre. Não se sentia viva. Os dias eram sempre iguais, e ela dava graças a Deus quando eles terminavam. Sozinha, não encontrava conforto para suas dores em nada e em ninguém. Também não achava que possuía amigos, apenas conhecidos. E a maioria (ou quase todos) eram do trabalho. E era no trabalho, também, que estava o maior de seus problemas.
Ela havia se mudado há tempos para a cidade grande para trabalhar, vindo de uma situação pobre, mas nunca poderia imaginar que sairia daquilo para uma situação de morte. Era isso, afinal, que sentia: sentia-se morta. Não porque o seu patrão a obrigava a praticar sexo oral nele diariamente, mas sim por não ter forças para lutar contra nada e ninguém. Nada e ninguém. Nada. Ninguém. Era isso.
E no momento em que todos os seus sonhos pareciam-lhe ideias idiotas produzidas por outra pessoa, resolveu colocar um fim em seu próprio sofrimento. Acordou pela manhã, certa de que seria seu último dia. Tomou seu café com gosto - uma última refeição digna para uma moribunda. Pegou a lotação para o trabalho. Chegou ao seu destino quase animada e excitada com aquilo tudo, e era irônico que a expectativa da morte a fizesse sentir-se mais viva. Viva como há muito tempo não se sentia.
- Selene, poderia vir à minha sala por um instante?
Era seu chefe. Seu patrão. Seu algoz.
E seria provavelmente o fim de tudo.
Selene entrou cabisbaixa na sala de seu chefe. Como de costume, todas as persianas estavam fechadas. Logo que entrou ouviu o clique da chave atrás de si. Ajoelhou-se, como sempre. O sujeito gorducho, com a barba por fazer e cheirando a azedo postou-se na sua frente. Com gestos rápidos abriu o zíper das calças e pôs o pênis para fora. Selene olhou para o pequeno e flácido genital do homem, e então para seu rosto. Ele pareceu se assustar com aquilo - ela nunca o havia encarado antes. Ela abriu, então, a boca, e começou a fazer aquilo que sempre fazia.
Ela chupou-lhe o melhor que podia, aguardando o momento certo. Então, quando sentiu-o enrijecer em sua boca, sentiu uma explosão de adrenalina derramando-se por todo o seu corpo, e despejando-se em seus maxilares. Foi então que Selene cerrou seus dentes com toda a força que tinha. Imediatamente sentiu um líquido morno escorrer de sua boca - sangue. E não só o líquido era diferente do que o de costume, como também a sensação. Era tudo novo.
Em meio aos berros, o homem desferiu-lhe um golpe em cheio no queixo. Ela foi jogada no chão pela violência do impacto, e, ao cair, cuspiu fora o pedaço do homem dilacerado e provavelmente algum de seus próprios dentes. Mas não importava: havia acontecido. Aquela mulher moribunda que a olhava no espelho todos os dias - apática e sem vida - havia, finalmente, morrido.
Uma nova mulher estava a caminho.

[Ps: Pensei três vezes antes de publicar este texto. Por fim, prevaleceu a ideia de que este espaço é meu, e faço com ele o que quiser. ;)]

domingo, 8 de agosto de 2010

As Geladeiras de Minha Vida

Quando era criança, era pequeno. Meu maior sonho, minha maior aspiração, na época, era ser grande. É que eu queria ter o poder de olhar em cima da geladeira. Sim, é isso mesmo, meu sonho era poder enxergar o que havia sobre a geladeira. Lembro que era com curiosidade que eu via as pessoas grandes pegando ou deixando objetos ali. Ou então olhando para ver o que havia. E eu, morrendo de curiosidade. Apenas quando me pegavam no colo é que conseguia ver um pouco. Frustrante.
Cresci, e me dei conta de que podia olhar por sobre a geladeira o quanto quisesse. Só que, a partir daí, muitas outras ‘geladeiras’ surgiram - uma parecendo ser mais alta e intransponível que a outra. O problema é que não sei até que ponto me tornarei alto o suficiente para olhar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Encontros & Desencontros

Estavam perdidamente apaixonados. Eram muito amigos, e se davam muito bem havia muito tempo. Um dia, enquanto estavam conversando, ele sentiu vontade de desabafar com ela:
- Tem uma coisa que eu queria te contar... - Disse ele titubeante.
- Diga. - Respondeu ela interessadamente, pois sempre se interessava pelo que ele pensava ou sentia. Ele era o amor da vida dela. Só que ainda não sabia.
- Precisava te contar isso. Já faz muitos anos que somos amigos, e eu queria que você soubesse que eu me apaixonei...
Quando ele falou “eu me apaixonei”, o mundo dela parou. O brilho do olhar, o tom da voz... ela teve certeza: estavam apaixonados e seriam felizes para sempre. Nada no mundo nunca mais poderia separá-los, e seriam felizes como nunca ninguém sonhou ser no mundo.
- Eu não acredito... - Ela disse - eu sempre fui apaixonada por você, sempre sonhei que um dia ficaríamos juntos! Eu te amo!
Silêncio.
A expressão dele mudou.
Ela enrubesceu, enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas.
Ele estava realmente apaixonado...
Mas não por ela.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ninguém pode dizer...

Ninguém pode dizer quem você verdadeiramente é.
Nem você mesmo.
Aceite isso.
E seja feliz.
Ou morra tentando.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Viver? Amar! Morrer...

Viver e morrer. Somos feitos pra isso. Só isso. E, ainda que exista quem está morto em vida, todos temos a vocação de viver, e, um dia, de morrer. Temos ao nosso lado pessoas com as quais convivemos todos os dias, mas nem todo dia entendemos que é preciso ‘amá-las como se não houvesse amanhã’. Já paguei caro por isso. Quando minha mãe se foi, só o que ficou em mim foi o vazio do abraço que faltou. Do carinho e das palavras não ditas. E eu, que sou apenas uma criança, queria poder voltar muitos anos no tempo para vê-la e senti-la com o pouco de conhecimento que hoje tenho a respeito do que significa viver.
Só que não dá.
Faz quase quatro anos que ela se foi. Ainda sinto. Ainda é difícil às vezes. Ainda tenho vontade de chorar de vez em quando. Mas não tenho o direito.
E todos nós morreremos. Alguns antes, outros depois. Muitos daqueles que agora estão à sua volta serão tragados pela estúpida e sorrateira morte, e o que você fez? O que eu fiz?
Hoje, quando penso em não gostar de alguém, decido que ninguém merece isso. Ninguém que me rodeia merece ser odiado em vida. Se as pessoas erram, pode ser porque não aprenderam a acertar, e minha obrigação é a de apenas ajudá-las. Ora, mas eu também não sei viver - estou aprendendo. Mas posso amar. Amar ajuda. Amar é tudo o que posso fazer.
Amar é ser livre, ainda que seja para navegar no pequeno oceano de nossas prisões particulares.
Amar é, enfim, viver...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vontades e Oportunidades

Queria tomar um café. Tomar café é muito simples, basta bebê-lo. Mas há muitas coisas por trás de um simples café. Para começar, é preciso ter algumas coisas à mão (como o café e o filtro, por exemplo). Tendo o que é preciso, precisamos aquecer a água, mas sem fervê-la. É que a água fervendo pode queimar o café e o gosto fica ruim. O próximo passo é passar o café. É preciso ter um pouco de paciência. Se você não possuir uma cafeteira automática (e a minha quebrou), tem que ir colocando a água aos poucos, até a medida certa. De qualquer forma, vai levar alguns minutos para que ele fique pronto.
Bem, eu quero tomar um café. A vontade existe. Os insumos estão todos aqui. Por que, então, não fazê-lo? Ah, é que eu estou com um pouco de mal estar, daqueles que fazem a gente ficar deitado no sofá sem querer fazer nada. E com um pouco de dor de cabeça, também.
Mas coisas que parecem simples podem nos dizer muitas coisas. E pensei que ser feliz é como tomar um café. Você precisa ter a vontade, mas ela por si só não basta. Tem que levantar do sofá, pegar aquilo que você tem e transformar em outra coisa. Precisa fazer o pó virar café pra tomar. A coisa é bem simples; o processo, porém, pode complicar um pouco. A água muito quente, insuficiente ou em demasia, pode comprometer tudo, e o café não vai ficar bom. Não tem receita certa. Eu, pelo menos, tenho a receita para o café de que eu gosto. Se bem que não é receita, é mais um feeling. Vou fazendo a olho...
E qual a receita para ser feliz? Ah, caros amigos, é muito simples, mas eu não saberia dizer - vou fazendo meio que no feeling. Só sei que, primeiro, é preciso levantar do sofá.
Agora me dêem licença, pois a minha água está no ponto.
Aceita uma xícara?

[Ps: Não encontrei os créditos devidos para a imagem]