terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nos meus olhos...


Ele ficou me encarando. Ali, imóvel. Não, não era o espelho, era apenas uma foto.
Uma foto minha.
Me encarando, enquanto me julgava, condenando-me um sem-número de vezes por muitas coisas que fiz ou deixei de fazer. Por frases ditas e silêncios moribundos. Recriminando-me por tudo o que eu era, sou e hei de tornar-me um dia.
Ele apenas ficou ali. Uma imagem congelada no tempo. Alguém que já morreu há séculos atrás. Um vampiro. Um natimorto. Um aborto da natureza. E ele não pára de me olhar...
Mas eu também o olho. E o vejo. E percebo muitas vidas, muitas mortes. Muitas esperanças e muitas derrotas. Está tudo ali, naquele olhar castanho, daqueles mais comuns que alguém pode ter. E percebo como ele é tudo e nada ao mesmo tempo. Talvez ele seja um morto-vivo, à espera de me devorar o cérebro através de meus sentimentos. Esperando para desferir palavras mudas, carregadas de dor e malícia, que só ele tem.
Mas ele é assim. Eu não. Eu me mudei.
E já não estou mais aqui...

4 comentários:

  1. Muito bom!!
    É interessante fazer isso. Pegar uma foto antiga e ver como é estranho saber que aquilo foi você um dia. O tanto que mudou, tantas lembranças. E nesse intervalo de tempo entre o dia da fotografia e o agora, percebe-se "muitas vidas, muitas mortes muitas esperanças e muitas derrotas". Está tudo ali, oculto, e nossa mente é encarregada de ressuscitar essa imagem.
    Abraço.

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  2. Ai meu Deus. Perfeito. Perfeito. Por sua culpa eu já olho pro espelho, com o rabo do olho, como se não fosse eu ali refletida...Agora, por sua culpa, como vou encarar fotografias antigas? Vou encara-las e questiona-las, ate fazer elas dizerem quem são....hihihih

    ^^

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  3. Rodrigo,
    Aquela pessoa da foto já não existe mais, e mesmo assim de vez em quando insiste em nos assombrar...

    Yeruska,
    Acho que você foi fundo nas entrelinhas. Eu também. Até demais... e isso é assombroso. Também estou com medo por aqui...

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