Sempre gostei do fogo. Aprendi na pele a verdade do famoso provérbio que reza a máxima de que quem brinca com fogo acaba queimado. Mas o fogo é fascinante. Ele queima hipnoticamente e aleatoriamente. As labaredas nunca são iguais; cada uma possui identidade e vida próprias. Aparentemente herdei este gosto de meus ancestrais, pois como nos primórdios não havia televisão, ao chegar cansado de um dia de caça, após vencer várias feras e intempéries para ganhar o sustento de cada dia, o homem fazia o fogo e sentava-se à frente dele apenas a contemplá-lo, sem nada dizer ou pensar. Certa vez admirando o fogo entendi a metáfora da paixão e do amor. A paixão é aquele fogo que pega na palha seca, e, como se fosse gasolina, logo explode e se consome em questão de segundos. Não há fogo comparável em potência. Não é assim o amor. O amor é mais delicado. É aquela chama que vagarosamente vai lambendo a madeira que, pouco a pouco, vai se rendendo a ele e brandamente vai se consumindo, mas não morre como o fogo da palha; se transforma em brasa que perdura por muito tempo sem que sequer façamos nada. Mas a paixão não deve ser relevada e relegada a um mero fogo de palha, não... pois o fogaréu que a palha produz é o que faz brotar o fogo na lenha, primeiro nas menores, depois nas maiores, até que a fogueira possa atingir proporções imensas. Em seguida, o fogo passa a consumir a lenha, até que as labaredas transformam a madeira em brasa igualmente quente. Com o amor acontece coisa semelhante. Primeiro vem aquela paixão fulminante e furtiva, que nos faz sermos capazes de cometer muitas loucuras sem tamanho. Em seguida a paixão se intensifica e ganha proporções enormes, e nossos sentimentos se sobrepõe à razão. Nesta fase, tudo é lindo na pessoa amada, e ela não possui nenhum defeito que possamos detectar. É então que vem a fase mais complicada: quando as labaredas começam a diminuir. Nossa mente que antes estava completamente dominada pelo fogo da paixão, direcionando todos os nossos pensamentos para a pessoa amada vai sendo invadida por ventos diferentes. Começamos a perder aquele ardor e passamos a perceber que o outro também tem defeitos (e muitos!) assim como eu também tenho. Nesta fase podem acontecer duas coisas com o fogo (e consequentemente conosco): se colocamos lenha boa, vai restar uma brasa forte, que o tempo não consegue apagar com facilidade; ou vai aos poucos se extinguindo, se a lenha que usamos como combustível foi fraca ou insuficiente. Para a sorte dos pirófilos (nem sei se essa palavra existe, mas que é legal é) sempre pode-se consertar as coisas, basta colocar um pouco de palha, soprar um pouco e as labaredas voltam a surgir, então podemos colocar mais lenha na fogueira, para que o fogo pegue de novo.
Fazer fogo não tem mistério, mas requer prática, e umas dicas também são importantes. Eu tenho meus próprios métodos para fazer fogo, ou para fazê-lo pegar quando está quase morrendo – acho que cada um tem. O mais importante é que poucas coisas são mais bonitas que um fogaréu crepitando. Ao menos esta é a minha opinião; ou melhor, minha idéia...
Escrevi este texto a um tempo atrás, num dos meus raros momentos de inspiração. Eu particularmente gostei, mas como sou suspeito para dizer, passo a bola para os leitores se é que eles existem. Se existirem, podem comentar.
O rapaz que trino de versos esses hein?...belo palavreado...
ResponderExcluirObrigado Seph1903... espero encontrá-lo outras vezes por estas bandas!
ResponderExcluirAbraço