Para quem não está familiarizado, Dexter é uma série
norte-americana (canal Showtime ou FX no Brasil) sobre um assassino (que dá nome à série) que mata
assassinos. Ou seja, ele é um assassino em série com um código: matar apenas
aqueles que ‘merecem morrer’. É um código dado a ele por seu pai, que era um
policial.
Um código.
Esse código é como uma ética distorcida. Seu pai sabia que
ele era um assassino, um psicopata. Por ser policial, soube desde que Dexter era jovem,
ainda criança, que ele era diferente, e o protegeu. Ensinou-o a forjar
sentimentos e enquadrar-se na sociedade. E mais ainda: ensinou-o os métodos de
identificação de criminosos, para que Dexter pudesse encobrir todas as suas
pistas e nunca ser capturado pela polícia, enquanto identificava e matava
criminosos em Miami.
Durante sua vida, Dexter sabe o que é – um monstro.
Posso estar exagerando aqui, mas eu acredito que, se pensarmos bem, todos somos um pouco “Dexters”.
Temos um código que nos permite vivermos em paz e temos monstros adormecidos em
nosso interior. Ah, sim, talvez nenhum de nós (assim eu espero)
tenha matado alguém com uma lâmina cortante, mas somos capazes de maiores
atrocidades sem nem ao menos precisarmos usar qualquer tipo de arma. Bastam
apenas palavras, gestos, olhares e sentimentos – e pronto: podemos destruir
alguém da pior forma que há: de dentro para fora.
E a parte interessante desta pseudoconstatação é que, tal como Dexter,
todos temos um código. Um código de ética deturpado que nos permite fazer
aquilo que é errado como se fosse o caminho mais certo e lógico a tomar. Ou
você pensa que um político que rouba ou um motorista que dirige embriagado está
fazendo uma coisa errada? Talvez sim do ponto de vista legal, mas não do ponto
de vista de suas éticas deturpadas. Sempre há uma justificativa superior à lei.
É o certo, e apenas eu posso dizer aquilo que é certo para mim. Não pode a
sociedade ou leis fazerem o serviço de minha consciência. Ainda mais numa
sociedade com valores invertidos, com leis compradas, feitas por legisladores
corruptos. Sim, todos temos códigos – cada um o seu. “Aqui não precisa usar
cinto de segurança”, “não há nada mal em se levar uma vantagenzinha aqui ou
ali”, “o juiz não viu”, “ninguém vai ficar sabendo”...
Meu ponto de vista é que, em geral, as pessoas não fazem
aquilo que julgam ser errado; antes elas se justificam criando argumentos
plausíveis (ao menos no ponto de vista delas) para suas condutas erradas. Mas o
que é o certo? E o que é o errado? Podem as leis dizerem aquilo que é certo ou
errado? Pode alguém que não seja você saber?
Vejamos, matar é errado, mas se for em defesa própria, então
é certo. Furto é crime, mas se você furtar um pão para que seu filho não morra
de fome, então é certo. Se furtar um salame junto, aí continua sendo errado.
Temos leis para nos dizer aquilo que é certo e errado; e temos juízes para
condenar aqueles culpados por fazerem aquilo que é considerado errado. Mas há
justiça?
Então é isso. Para vivermos em paz basta ajustarmos nossa ética à da sociedade e domesticarmos os monstros que dormem no interior de nossas almas atormentadas.
Adorei o texto.
ResponderExcluirJá me peguei pensando em algo do tipo.
Nós temos nossos próprios valores, desenvolvidos de forma única por cada pessoa. Mas também temos os valores universais, as leis que (teoricamente) prezam pelo bem comum. Isso limita nossos valores pessoais, como você disse. Talvez o certo seja mesmo certo se você não prejudica ninguém. Mas e se você prejudica a você mesmo em benefício de outro? Aí eu já não sei... pode depender. São questões muito filosóficas.
Gosto dos seus textos, cara. Queria conseguir explicar as coisas que eu penso assim, de forma entendível.
Sobre a série, seus comentários chamaram minha atenção. Tenho planos de um dia assistir algumas séries, já que eu não tenho esse costume. Dexter acaba de entrar em minha lista.
Abração!
Cara, valeu pelo comentário! Você deve ser a única pessoa que lê isso aqui, hehehe.
ExcluirQuando puder, assista, a série é muito boa. Uma das poucas em que você pode entrar na cabeça do protagonista... e ele é um assassino! hehehe
Abraço aí!