sábado, 6 de agosto de 2011

Tenório (Parte 4)


Tudo o que fazemos e pensamos acontece dentro de um espaço de tempo. Existem aparelhos capazes de medir precisamente o tempo que decorre entre o início de um acontecimento e seu final - são chamados de relógios. Eles podem medir com precisão, por exemplo, quanto tempo um atleta leva para percorrer a distância de cem metros, entre outras coisas.
Há vários tipos de relógios, mas todos marcam o mesmo tempo. E o fato de existir um relógio para marcar o tempo pode fazer com que este mesmo tempo pareça virtualmente maior ou menor, dependendo da situação.
Tenório, por exemplo, não tinha tempo, pois logo iria morrer. E sabia disso. E o fato de ele saber disso fazia com que o seu tempo se passasse ainda mais rápido, embora fosse o mesmo tempo que transcorria para Ana. A diferença é que Ana, por sua vez, não via o tempo passar, tão atolada que estava; imersa em seus próprios dias...
É bom ressaltar que outro problema temporal pelo qual Tenório passava lhe era extremamente cruel: a sós com uma linda mulher, ele precisava de tempo para inventar uma desculpa plausível do porquê de haver um Viagra rolando pelo chão de sua sala.

Tenório teve a impressão de que estava ficando vermelho. Bem, talvez roxo de vergonha. Amaldiçoou mentalmente o jeans velho que estava usando. Como não tinha percebido que o bolso estava furado?
Parecia que o ar sumia dos seus pulmões e seu estômago deslocava-se dentro de sua barriga, enquanto assistia ao Viagra caído de seu bolso girar no chão, ao lado de seu pé, sob o olhar desconfiado de Ana.
- O que é isso? - Perguntou ela, enquanto inclinava-se para frente para colher o Viagra com uma das mãos.
- Isso o quê? - Tenório respondeu, enquanto repetia o gesto dela, inclinando-se e ”acidentalmente” esmagando o comprimido com a sola do sapato.
- Ops! O que é isso? Puxa, acho que era um remédio... Quero dizer, era o meu remédio!
- Remédio? - Pelo tom da voz de Ana, ele percebeu que ela devia estar levemente desconfiada.
- Sim! Puxa, que azar, esses remédios custam uma fortuna! Deve ter caído do meu bolso. - Explicou ele. E era verdade: o remédio era caro mesmo; uma fortuna, na avaliação de Tenório.
- Você não tinha me dito que tomava algum medicamento. Este vinho não corta o efeito? - Ana tentava educadamente encontrar uma forma de ele contar que pílula era aquela. Tentava não ser invasiva demais.
- Olha, Ana, acredito que deva cortar um pouco. Só que aqui, com você, sinto-me bem como não me sentia em sei lá quanto tempo, sabe? Então acho que não me faz tanta falta agora. O remédio, quero dizer. Tanto que até tinha esquecido de tomar.
- Que bom... fico feliz de estar aqui com você também. A gente precisa disso de vez em quando...
- Nem me fale! Fazia muito tempo que não me sentia tão bem sem usar esses remédios para levantar o humor! - Disse Tenório, enquanto dava um risinho nervoso e tinha a sensação de sentir um calor estranho, inconveniente e repentino.
- Ah, são para levantar o humor?
- Sim! É que meu médico não me deu boas notícias ultimamente. Aí me mandou em um psicólogo, que me receitou isso.
- Engraçado... que eu saiba psicólogos não podem receitar medicação, só psiquiatras.
- Ahm, bem... é que ele é meu amigo, e conseguiu que um colega dele, psiquiatra, emitisse a receita, sabe...
- Ah, que sorte a sua!
Tenório tentava contornar a situação embaraçosa na qual havia se metido. E agora? Tudo estava ruindo. Indo por água abaixo. Ana poderia levantar, agradecer e ir embora a qualquer momento. Não! Ele não deixaria isso acontecer. Não esta noite. Já que não lhe restava tanto tempo, resolveu tomar medidas drásticas e ativar o “plano D” - de desesperado.
- Ana, eu não pretendia te contar isso, não esta noite. Mas é que eu vou morrer.
- Ah, eu também vou...
- Não, Ana, você não entendeu. Quando falei das más notícias que o médico me deu eu me referia a isso. Vou morrer logo. Muito logo.
- Puxa, Tenório, como assim? Mas o que...
- Não, Ana, não me faça mais perguntas. Só queria que você soubesse e visse que sou um homem diferente agora. E achei que poderíamos passar bons momentos juntos. É isso que quero para minha vida, entende? Viver ao máximo cada segundo. Aproveitar tudo, pois amanhã posso não estar aqui.
A expressão de Ana mudou, e agora que ela parecia seriamente preocupada ele aproveitava-se disso para fazer-se de coitado e tentar levá-la para cama de uma vez por todas. Enquanto falava, ele chegou mais perto dela e tomou sua mão. Agora ele precisava dar o golpe final, e tudo daria certo.
Se é que seria tão simples e fácil assim...

4 comentários:

  1. Ola Giordano,
    Eu queria dizer que desde quando você iniciou esta estoria e daqui tenho lido sempre e estou gostando muito.
    O que é interessante em uma narrativa e eu sempre observo quando eu também escrevo, é que usamos este meio para passarmos informações a outras pessoas que provavelmente alguém ainda não saiba e... Neste capitulo você falou sobre quem pode medicar que seria o psiquiatra e não um psicologo e isto eu não sabia, rsrs
    A estoria nos deixa cada vez mais curiosos, estou gostando.
    Beijos

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  2. A do psicólogo eu já sabia... só não imaginava que Tenório conseguisse sair dessa situação com uma jogada de mestre como essa.
    Cara, isso daria um ótimo livro!
    To gostando pra caramba da história

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  3. Hahaha!!! Agora que percebi que a imagem do relógio já tinha sido usada pelo Rodrigo em um post de seu blog!!! Desculpa aí, foi mal. Mas bem que eu percebi que já tinha visto essa imagem em algum lugar...

    Valeu pelos comentários galera!!!

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  4. Rapaz, se eu te falar que nem lembrava mais que tinha usado essa imagem em um post vc não acredita 'haha.
    E não tem problema nenhum!

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