Tenório rodou o comércio de seu
bairro comprando algumas coisas que julgava imprescindíveis para a
concretização de seu plano fatal. Isso incluiu uma nova ida à farmácia para
comprar uma caixa de Viagra - assim a performance estaria garantida. Comprou
também uma cueca novinha em folha, daquelas ‘de perninha’ - como ele mesmo
explicou à vendedora; queria estar bem apresentável na hora ‘H’. Lembrou de
pegar flores quando já voltava para casa, assim causaria uma boa impressão em
Ana.
Quando a hora foi se aproximando,
ele tomou um banho demorado, como não tomava há algum tempo, e vestiu-se com
uma roupa em que se achava mais atraente. O jeans era meio velho, mas era bem
confortável e lhe caía bem. Escondeu cuidadosamente uma pílula de Viagra em um
dos bolsos de sua calça, uma camisinha em outro bolso, e foi para a cozinha.
Quando Ana tocou a campainha, Tenório já estava com quase tudo pronto.
- Olá Ana! Puxa, como você está
linda!
Ana sorriu e foi entrando,
dizendo que era gentileza dele e que ele também estava ótimo, e essas mentiras
que as pessoas dizem para sentirem-se socialmente mais aceitas e não gerar
desconforto aos outros.
A partir de agora era tudo com Tenório,
e nada poderia sair errado. E ele tentava parecer o mais sexy e educado que
podia. Olhava nos olhos dela enquanto falava, tentava parecer inteligente e
engraçado, jogava algumas indiretas muito sutis e procurava prestar atenção a
cada movimento de Ana, na tentativa de decifrar por aí se seu plano estava
dando certo. E dava a impressão que estava tudo perfeito.
Jantaram. Até ali estava tudo
correndo como o planejado. Foram para a sala de estar. Tenório colocou uma
música suave no aparelho de som e sentou-se virado para Ana. Ela fez o mesmo - estava caindo - pensou Tenório. De
acordo com o que ele havia estudado na internet, ela estava bem receptiva. Só
cabia a ele a missão de não estragar tudo.
Tenório estranhava como as coisas
pareciam estar estranhamente em seus lugares. Afinal, nada em sua vida havia
sido fácil até ali. Era estranho. Pensou, então, no médico dizendo-lhe que
teria sorte se chegasse a completar mais um ano de vida. Lembrou da sensação de
nó na garganta, de frio na barriga, da revolta, das lágrimas. Lembrou de si
mesmo dizendo ao médico que não queria passar o resto de sua vida em um
hospital. Sorriu para si mesmo da sensação que havia sentido naquele dia. Lá, pela
primeira vez, sentia uma vontade indescritível de viver... Ana pensou que o
sorriso e os olhos brilhantes dele fossem para ela, e se entusiasmava ainda
mais nas coisas que contava. Só que Tenório não fazia a menor ideia de sobre o
que ela falava. Será que ela contava alguma coisa que tinha acontecido numa
viagem, ou algo do tipo? Buscou rapidamente em sua mente o que deveria fazer
para que ela pensasse que ele prestava atenção a tudo o que ela dizia - tinha
lido alguma coisa sobre isso na internet.
- ... e aí ele caiu no chão! -
Terminou Ana, e começou a rir. Ele começou a rir junto, dizendo:
- Ele caiu no chão! - Ele repetiu
enquanto ria junto, e seu riso era puramente verdadeiro, genuíno.
Repetição. Para uma mulher não
desconfiar que você não prestou atenção em nada do que ela disse, repita a
última frase (ou as últimas palavras), e tente demonstrar alguma emoção
enquanto falar. “Ufa, deu certo...”
Tenório, então, ouviu um barulho
estranho, como se alguma coisa tivesse caído e rolado no chão. Parecia ser um
brinco ou algo semelhante. Ana também pareceu perceber, pois passou a vasculhar
o chão com os olhos enquanto tateava suas orelhas com as mãos.
Mas não era um brinco.
- O que é isso? - Perguntou Ana
curiosa.
Tenório ficou instantaneamente
vermelho. Ali, no chão, próximo ao seu pé de, um comprimidinho azul rolava pelo
chão.
Era seu Viagra.