quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Morte de Tenório


E então ele morreu.

FIM!


Ok, muita coisa aconteceu até ele morrer. Mas o caso é que estou tentando escrever sobre a morte dele para um concurso de contos, então não posso dizer contar como ele morreu neste espaço. Isso invalidaria o conto e eu seria sumariamente desclassificado. Mas depois do resultado, postarei aqui, é claro...

domingo, 7 de agosto de 2011

Tenório (Parte 5: FINAL)



Ele gostava muito de Ana, mais do que achava que gostava. Na época dos acontecimentos aqui narrados ele ainda não sabia que ela teria um papel fundamental em sua vida, pouco antes dela terminar. Ana lhe daria uma missão, ou algo assim. Digamos que lhe daria um motivo para viver. Ou um sentido para sua vida, podemos dizer.
Agora, porém, Tenório apenas buscava ter a intimidade que sempre desejara com Ana. Ou seja, desejava levá-la para sua cama.
- Minha nossa, Tenório, o que eu posso fazer por você?
- Quero um abraço, se não for pedir muito. - Disse Tenório, pondo-se em pé.
- Claro! Vem aqui, vem! - Ana levantou e estendeu os braços na direção dele.
Era tudo o que ele queria. Agora era só não errar o bote. Ele abraçou-a com todo o corpo, envolvendo-a como se ela fosse um enorme travesseiro. Apertou-a contra si e deitou o nariz em seu pescoço. Percebeu que a respiração dela alterou-se instantaneamente - ia ser agora. Tinha de ser...

E foi.

Ana pegou no sono pouco depois que fizeram amor pela segunda vez. Eram mais de duas da manhã de sábado, e Tenório decidiu que não dormiria. Acompanhou o sono da bela Ana, com um sorriso de satisfação no rosto - um sorriso que nem a morte poderia desfazer. Por uns momentos, foi como se nada de ruim pudesse se colocar entre ele a aquela linda mulher a dormir em sua cama.
Levantou-se.
Procurou pelo quarto, ajudado pela pouca claridade que entrava da janela, por um antigo maço de cigarros. Encontrou-os e foi para a varanda. Riu sozinho ao ver os avisos de advertência no verso da caixa. “Como se importasse” - chegou a dizer a si mesmo.
A noite estava agradável. Ele sentou-se à frente de sua casa e acendeu um cigarro. Fazia muito tempo, talvez uns cinco anos, que tinha parado de fumar. Nas primeiras tragadas sentiu sua cabeça girar - não estava mais acostumado à nicotina e às outras mais de quatro mil substâncias tóxicas que havia no cigarro. Começou a pensar, mas não voluntariamente. Apenas deixou sua mente vagar. Milhões de pensamentos e sensações o invadiram em poucos minutos. E cada pouco vinha em sua mente Ana. O sorriso de Ana; Ana dormindo; o jeito de Ana; os cabelos de Ana; o corpo de Ana... De onde vinha tudo isso? - Tenório não sabia.
Resolveu voltar para a cama - sentia necessidade de vê-la. Tocar nela, estar com ela...
Embora não quisesse dormir, não pode manter-se acordado a noite inteira. Seu corpo não aguentou e ele caiu em um sono profundo. Porém, antes de dormir, muitos outros pensamentos e insights aconteceram na mente transtornada de Tenório, e, ao que tudo indica, o que ele pensou naquela noite determinou a forma como ele morreu. Ou melhor, influenciou na maneira pela qual ele escolheu morrer.
Mas isso já é assunto para uma outra história...

sábado, 6 de agosto de 2011

Tenório (Parte 4)


Tudo o que fazemos e pensamos acontece dentro de um espaço de tempo. Existem aparelhos capazes de medir precisamente o tempo que decorre entre o início de um acontecimento e seu final - são chamados de relógios. Eles podem medir com precisão, por exemplo, quanto tempo um atleta leva para percorrer a distância de cem metros, entre outras coisas.
Há vários tipos de relógios, mas todos marcam o mesmo tempo. E o fato de existir um relógio para marcar o tempo pode fazer com que este mesmo tempo pareça virtualmente maior ou menor, dependendo da situação.
Tenório, por exemplo, não tinha tempo, pois logo iria morrer. E sabia disso. E o fato de ele saber disso fazia com que o seu tempo se passasse ainda mais rápido, embora fosse o mesmo tempo que transcorria para Ana. A diferença é que Ana, por sua vez, não via o tempo passar, tão atolada que estava; imersa em seus próprios dias...
É bom ressaltar que outro problema temporal pelo qual Tenório passava lhe era extremamente cruel: a sós com uma linda mulher, ele precisava de tempo para inventar uma desculpa plausível do porquê de haver um Viagra rolando pelo chão de sua sala.

Tenório teve a impressão de que estava ficando vermelho. Bem, talvez roxo de vergonha. Amaldiçoou mentalmente o jeans velho que estava usando. Como não tinha percebido que o bolso estava furado?
Parecia que o ar sumia dos seus pulmões e seu estômago deslocava-se dentro de sua barriga, enquanto assistia ao Viagra caído de seu bolso girar no chão, ao lado de seu pé, sob o olhar desconfiado de Ana.
- O que é isso? - Perguntou ela, enquanto inclinava-se para frente para colher o Viagra com uma das mãos.
- Isso o quê? - Tenório respondeu, enquanto repetia o gesto dela, inclinando-se e ”acidentalmente” esmagando o comprimido com a sola do sapato.
- Ops! O que é isso? Puxa, acho que era um remédio... Quero dizer, era o meu remédio!
- Remédio? - Pelo tom da voz de Ana, ele percebeu que ela devia estar levemente desconfiada.
- Sim! Puxa, que azar, esses remédios custam uma fortuna! Deve ter caído do meu bolso. - Explicou ele. E era verdade: o remédio era caro mesmo; uma fortuna, na avaliação de Tenório.
- Você não tinha me dito que tomava algum medicamento. Este vinho não corta o efeito? - Ana tentava educadamente encontrar uma forma de ele contar que pílula era aquela. Tentava não ser invasiva demais.
- Olha, Ana, acredito que deva cortar um pouco. Só que aqui, com você, sinto-me bem como não me sentia em sei lá quanto tempo, sabe? Então acho que não me faz tanta falta agora. O remédio, quero dizer. Tanto que até tinha esquecido de tomar.
- Que bom... fico feliz de estar aqui com você também. A gente precisa disso de vez em quando...
- Nem me fale! Fazia muito tempo que não me sentia tão bem sem usar esses remédios para levantar o humor! - Disse Tenório, enquanto dava um risinho nervoso e tinha a sensação de sentir um calor estranho, inconveniente e repentino.
- Ah, são para levantar o humor?
- Sim! É que meu médico não me deu boas notícias ultimamente. Aí me mandou em um psicólogo, que me receitou isso.
- Engraçado... que eu saiba psicólogos não podem receitar medicação, só psiquiatras.
- Ahm, bem... é que ele é meu amigo, e conseguiu que um colega dele, psiquiatra, emitisse a receita, sabe...
- Ah, que sorte a sua!
Tenório tentava contornar a situação embaraçosa na qual havia se metido. E agora? Tudo estava ruindo. Indo por água abaixo. Ana poderia levantar, agradecer e ir embora a qualquer momento. Não! Ele não deixaria isso acontecer. Não esta noite. Já que não lhe restava tanto tempo, resolveu tomar medidas drásticas e ativar o “plano D” - de desesperado.
- Ana, eu não pretendia te contar isso, não esta noite. Mas é que eu vou morrer.
- Ah, eu também vou...
- Não, Ana, você não entendeu. Quando falei das más notícias que o médico me deu eu me referia a isso. Vou morrer logo. Muito logo.
- Puxa, Tenório, como assim? Mas o que...
- Não, Ana, não me faça mais perguntas. Só queria que você soubesse e visse que sou um homem diferente agora. E achei que poderíamos passar bons momentos juntos. É isso que quero para minha vida, entende? Viver ao máximo cada segundo. Aproveitar tudo, pois amanhã posso não estar aqui.
A expressão de Ana mudou, e agora que ela parecia seriamente preocupada ele aproveitava-se disso para fazer-se de coitado e tentar levá-la para cama de uma vez por todas. Enquanto falava, ele chegou mais perto dela e tomou sua mão. Agora ele precisava dar o golpe final, e tudo daria certo.
Se é que seria tão simples e fácil assim...